quinta-feira, 22 de abril de 2010

Denúncia de abuso sexual envolve ciúmes e política


ac24 horas - Ter, 20 de Abril de 2010

Denunciado por abuso sexual pela sogra e investigado pela Comissão Parlamentar de Inquérito que apura crimes de Pedofilia em todo o Estado, Jersér Lins e a esposa, Rosimeire da Silva, resolveram quebrar o silêncio e falar sobre as acusações que mudaram a rotina da família. Em entrevista exclusiva ao ac24horas, o funcionário público disse “que tudo não passa de perseguição política”. Rosimeire, mãe do menor J.V. R. R., disse que todas as acusações são absurdas.

O cenário escolhido pelo casal para conceder a entrevista foi a casa de um amigo, em Senador Guiomard. Desde à tarde da última sexta (16), depois das matérias que veiculavam a prisão preventiva de Jersér, que nossa reportagem tentou contato com o acusado. Depois do desencontro do fim de semana, no início da tarde de ontem (19), o bate papo aconteceu.

Ainda nervosos pela pressão sofrida, o casal se manteve sempre juntos e com o filho menor nos braços da mãe, a pedagoga Rosimeire da Silva.

Jersér foi quem iniciou o relato dos fatos, que segundo ele, culminaram com uma situação política com vistas já nas eleições de 2014, onde o acusado figura como potencial candidato a substituição de Joais Santos (PT), atual prefeito do município de Capixaba.

- Na verdade, dona Maria Paixão sempre quis ter a guarda do menino, que de 11 meses até 2 anos e meio ficou com ela, no período em que a Rose fazia faculdade. É tanto que apelou para a politicagem – iniciou Jersér.

O primeiro passo tomado pela avó, foi uma denuncia formulada no Conselho Tutelar, onde ela [Maria Paixão] acusou o casal de espancar a criança. Com o processo arquivado por falta de provas, dia 23 de dezembro, Maria Paixão foi novamente ao órgão de proteção do menor e disse em nova denúncia, que Jersér abusava sexualmente de J. V. R. R. que na época tinha 06 anos.

Maria Paixão teria assistido os fatos denunciados, quando trabalhava na casa do casal, no momento em que passava ferro nas roupas da família.

- Ela conta que viu Jersér saindo do quarto excitado e se arrumando – disse Rosimeire.

Encaminhada para delegacia de Policia Civil, o delegado pediu o exame de corpo delito da criança, que foi feito antes do Natal de 2009. O fato manteve-se sob sigilo pelo delegado. A família chegou a perder a guarda da criança, que a pedido da juíza de Capixaba, ficou sob a proteção da avó, dona Maria Paixão.

- Nove dias depois teve uma audiência e quando a juíza viu a cópia do laudo que deu negativo, mandou que a criança retornasse para casa – acrescentou Jersér. Nesse momento, segundo Jersér, entra na história o deputado Walter Prado (PDT), presidente da Comissão dos Direitos Humanos que pediu o reforço das investigações, inclusive, com o acatamento das denúncias pela CPI da Assembléia Legislativa.

- Eles mandaram prender meu computador e todo equipamento que tinha em minha casa para saber se tinha algo que me ligasse à rede de pedofilia – declarou o acusado.

Além de Walter Prado (PDT), Jersér acredita que o PSDB também esteja arquitetando sua desqualificação. Ele lembrou que Maria Paixão foi candidata à vereadora pelo partido dos tucanos, mesma sigla de Donald Fernandes, que segundo Jersér e Rosimeire, foi quem apresentou comportamento mais agressivo nos depoimentos.

Mas Jersér vem sendo alvo de discursos inflamados no próprio PT em Capixaba. Na última sessão da Câmara Municipal, vereadores da base governista pressionaram o prefeito Joais Santos (PT), para demiti-lo do cargo de fiscal de Tributos.

- A partir daí a coisa saiu da esfera jurídica e foi para as mãos dos políticos. Hoje é um caso político e eu temo ser feito de bode expiatório, mas confio no trabalho da CPI para que seja feita justiça no caso. Não posso pagar por um crime que nunca cometi – concluiu Jersér.

MÃE DISSE QUE AVÓ FEZ FALSAS DECLARAÇÕES O TEMPO TODO

Rosimeire da Silva disse não entender como uma avó viu os fatos dia 13 de novembro e foi formular denuncia apenas dia 23 de dezembro. Ela também descarta as declarações do cenário apontado como local do suposto crime cometido por Jersér.

- Ela disse que estava de frente com o quarto passando ferro. Como é que ela não reagiu diante de um fato como esse? Qualquer avó faria um estrago, chamaria a polícia. Eu faria isso mesmo se não fosse com meu filho! – exclama a mãe do menor.

A mãe declarou ainda que Maria Paixão tinha ciúmes da forma como Jersér cuidava de J. V. R. R. e pelo fato do filho passar a lhe chamar de pai. Na versão de Rosimeire, a revolta da avó aumentou quando o pai biológico do menor disse não acreditar na denuncia feita pela própria mãe.

- Ela chamou ele [o pai biológico] de desnaturado, esculhambou porque ele não ficou do lado dela – voltou a comentar Rosimeire.

Mais centrada, Rosimeire questiona o modelo de investigação da CPI que em momento algum foi na cena do suposto crime e nem chamou para depor, o pai biológico da criança.

- Estão baseados apenas nos depoimentos da avó e das testemunhas que ela levou, uma delas, a sua melhor amiga – acrescentou com tom emocionada, Rosimeire da Silva.

Há 18 anos trabalhando como professora e formada em pedagogia, responsável hoje pela direção de 1.200 alunos da escola Argentina Pereira Feitosa, Rosimeire disse que existe uma tentativa por parte de membros da CPI de incriminá-la como co-autora do suposto crime de abuso sexual cometido por Jersér.

- O Jersér ficava com o J. V. R. R. e minha outra filha de dez anos, outra coisa absurda, porque se ele tivesse intenção de alguma coisa, a primeira seria ela – argumentou Rosimeire.

Rosimeire que participou do primeiro depoimento sem dano, disse que o menor J. V. R. R. negou todas as denuncias feitas pela avó.

FAMÍLIA FICOU SURPRESA COM PEDIDO DE PRISÃO DIVULGADO PELA IMPRENSA

Com quatro meses de investigação por parte da Policia Civil, o que mais a família do menor J. V. R. R. pede é que seja dado um desfecho para o caso. O casal assegurou que mudou a rotina de vida e que por conta da pressão imposta à CPI, teme que o caso seja transformado em fato político.

- Eles tentaram a todo momento nos incriminar; esse Donald colocou como agravante o fato do meu marido ter pesquisado sobre pedofilia na internet. Como ele iria se defender de um crime que ele não conhece? – questionou Rosimeire.

Jersér diz que não entendeu ainda o critério utilizado pela comissão para julgamento dos casos “se nem a cópia do meu depoimento me foi dada pelos membros da comissão”, concluiu.

AVÓ CONTINUA LUTA PARA INCRIMINAR JEFÉRSON

Mesmo com as declarações de Jersér e Rosimeire, a avó do menor J. V. R. R., dona Maria Paixão, continua firme na sua tentativa de provar os crimes. Ela organizou no último final de semana, uma passeata que pediria a prisão preventiva do acusado, mas o evento não teve o quorum esperado.

Na sexta-feira (16), ela junto com moradores procuraram a Comissão dos Direitos Humanos da Assembléia, para avisar do ato de protesto. Em entrevista dada ao repórter Ray Melo, Maria Paixão disse que foi ameaçada de morte por pessoas ligadas a Jersér.

- Não tive ajuda de nenhuma autoridade. Todos viraram as costas para meus apelos, só consegui ajuda, após a denúncia feita na imprensa, quando o deputado Walter Prado apresentou o caso a CPI. Hoje, finalmente acredito que possa ser feita Justiça – declarou a avó.

Indo mais além, Maria Paixão pede a Comissão dos Direitos Humanos, a destituição do Conselho Tutelar do Município e ainda, acusa a juíza de Capixaba de favorecimento.

ac24horas, não conseguiu falar durante todo o dia de ontem, com o presidente da CPI, deputado Luis Tchê e o relator, deputado Donald Fernandes.

Jairo Carioca – Da Redação de ac24horas js.carioca@hotmail.com

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